terça-feira, 18 de novembro de 2008

SOBRE O 1° ENCONTRO NACIONAL DE JOVENS FEMINISTAS



Jovens feministas sim, com muito orgulho!

Jovens feministas se encontram no Ceará e discutem popularização do feminismo e fim dos estereótiposMaria Camila Florêncio da Silva, do Virajovem Recife (PE)* (19/03/2008)
De 13 a 15 de março em Maracanaú (CE), rolou o I Encontro Nacional das Jovens Feministas. Participaram dele 100 mulheres jovens de todo Brasil, negras, lésbicas, indígenas, quilombolas, rurais e da periferia. Vários grupos foram representados em meio à diversidade presente, que partiram de algo que todas têm em comum - ser mulher jovem e feminista - para suas demandas e necessidades específicas. Rolaram altas discussões, e é evidente que a Viração tinha que estar presente neste encontro!
Na ocasião, as garotas resgataram a importância desse evento e seu propósito, que é consolidar a criação da Articulação Brasileira de Jovens Feministas. A realização desse evento e mais a Conferência Livre, que ocorreu no domingo, dia 16 de março, em Fortaleza (CE), são frutos dessa articulação entre jovens mulheres que vinham se mobilizando desde 2004, no 10° Encontro Latino Americano e do Caribe, quando já pautavam as demandas das mulheres jovens.
Desde então, nos anos sucessivos ao encontro, houve uma mobilização nacional com atividades, oficinas, discussões virtuais, etc. A principal atividade realizada até então foi o Fórum de Jovens Feministas no Fórum Social Brasileiro em 2006, que enfatizou a necessidade de participar de espaços importantes de discussão de políticas públicas para mulheres e juventude.
"Mas foi na II Conferência de Políticas para Mulheres, em agosto de 2007, que a consolidação dessa articulação ficou mais que evidente e necessária, quando as jovens levaram um pré-documento de demandas e abriram um diálogo com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres sobre a importância de uma representação jovem feminista no Conselho Nacional das Mulheres. E a resposta que obtivemos foi que essa Articulação tinha que sair de vez para que isso tornasse possível. Saímos então com a demanda deste encontro", disse Latoya, de São Paulo (SP), do movimento das negras jovens feministas.
"Nós, mulheres jovens, temos o desafio duplo, que é estarmos presentes nos espaços de juventude pautando a questões das mulheres e nos espaços de mulheres pautando a juventude", diz Monaliza, do Coletivo de Jovens Feministas - CE e do Fórum
Cláudia VasconcelosCearense de Mulheres. "Por isso também a importância da consolidação da Articulação, que está fortalecendo os coletivos de jovens feministas existentes. Muitas vezes esses coletivos encontram dificuldades por não terem uma grande infra-estrutura, ou mesmo uma sede própria, sem contar os diversos desafios que eles enfrentam para se manterem e realizarem ações. Diante dessa realidade não queremos deslegitimá-los e sim fortalecê-los", acrescenta Cláudia Vasconcelos do Coletivo de Jovens Feministas - PE.
Feminismo x lesbianidade
Dentre as principais discussões levantadas o destaque é a situação das mulheres negras e mulheres lésbicas, nas quais os grupos falaram da dificuldade que as pessoas têm em assumir estas identidades.
Luanna Marley do Grupo Lamce de Fortaleza - CE, perguntou: "Por que há tanta resistência com a palavra lésbica? Por que nessa relação com o feminismo muitas vezes é negada uma das identidades que também faz parte do movimento, que é a lesbianidade?"
Sobre isso Andréa do Coturno, de Vênus de Brasília (DF), complementa: "Acho que o receio do movimento feminista em reconhecer a lesbianidade como uma das identidades que o compõe, é o medo de reforçar o estereótipo de que toda feminista é lésbica."
Com discussões diversas e específicas, saíram reflexões tidas como prioritárias pela articulação. Entre elas, uma ganhou destaque e foi consenso como a mais importante no momento - a descriminalização e legalização do aborto. Também foi defendido como desafio a popularização do feminismo, uma vez que muitas mulheres atuantes nos movimentos, ou não, têm de se reconhecer como feministas. Essa dificuldade vem dos estereótipos, que fazem com que as pessoas vejam o feminismo como um bicho-de-sete-cabeças, "machismo ao contrário" ou mesmo a visão de que é um movimento atuante no passado.
"Eu militei na Pastoral da Juventude em Manaus por 11 anos, onde comecei a conhecer outros movimentos, entre eles o
Roseane ForitoFeminista e comecei a me identificar. A princípio eu queria "acabar" com os homens, mas porque ainda não tinha muita informação, depois conheci o que de fato é o feminismo... Daí me apaixonei", contou Roseane Ribeiro do Forito, da Liga Brasileira de Lésbicas, São Paulo (SP).
O encontro também recebeu a visita ilustre da Maria da Penha, ex-farmacêutica vítima de violência doméstica, que nomeia a lei 11.340. "Fico muito feliz em ver também as mulheres jovens se reunindo e sugerindo políticas públicas específicas", comentou.
O primeiro Encontro Nacional das Jovens Feminista teve o apoio da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Secretaria Nacional de Juventude e Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, ambas do governo federal. Além da Prefeitura de Fortaleza e Fundação Friedrich Ebert Stiftung. TÁ NA MÃOPara entrar em contato com o Movimento Jovens Feministas, escreva um e-mail para
jovensfeministas.brasil@gmail.com *Um dos 21 Conselhos Editoriais Jovens da Vira espalhados pelo País (pe@revistaviracao.org.br)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

MANIFESTO: JOVENS PELO DIREITO DE DECIDIR



Todo jovem tem capacidade de decidir pela vida que deseja ter e o direito de
dar significado a ela.


A visita do Papa ao nosso país está mobilizando toda a comunidade
católica brasileira, com ampla repercussão na mídia. Em decorrência disso, em
março e abril de 2007, alguns jovens de diversos movimentos sociais de
juventude (étnico/racial, cultural, religiosa, político-partidária, gênero e
diversidade sexual) se reuniram para elaborar um documento, para manifestar
ao Papa e à nossa sociedade o quão prejudiciais e impactantes são para as/os
jovens as rígidas posições da hierarquia católica sobre a sexualidade. Tais
posições provocam sérias conseqüências sobre os direitos sexuais e
reprodutivos de toda a população, até mesmo para quem não segue o
catolicismo. Estamos nos referindo às concepções católicas que condenam o
uso de anticoncepcionais e camisinha, a diversidade sexual, o sexo por prazer
e antes do casamento, o aborto, entre outras. Um dos segmentos mais
atingidos por esse pensamento católico é o das/dos jovens, que representam
cerca de 22% da população brasileira1.
O padrão moral valorizado pela sociedade, com base em concepções
fomentadas pela hierarquia católica, é o heterossexual cristão, branco e adulto.
Além disso, essa hierarquia ainda dita normas que determinam que o sexo seja
somente praticado dentro do casamento e com finalidade exclusiva de
reprodução. Assim, tudo o que foge desse padrão acaba sendo estigmatizado,
malvisto, desvalorizado e excluído. De forma geral, as religiões podem ajudar
as pessoas a superar dificuldades e a dar sentido para suas vidas, mas essas
idéias especificamente geram preconceito, exclusão, discriminação e violência;
ou seja, pecado.
Essa postura também atinge as mulheres, que reiteradamente são
colocadas em situação de inferioridade. O papel que é imposto às mulheres
como destino – o de esposa e mãe, baseado numa condição biológica
determinista – as mantém em situação de vulnerabilidade. Nesse quadro,
também se deve levar em conta a proibição pela igreja católica do uso do
preservativo e anticoncepcionais, o que resulta em gravidez sem planejamento
e também no aumento do índice de contaminação por doenças sexualmente
transmissíveis (incluindo a aids), o que atinge principalmente as jovens, as
pobres e as negras.
Afirmamos que, a legalização do aborto deve ser discutida com urgência
por toda a sociedade, haja vista que o aborto clandestino, hoje, representa a
quarta causa de mortalidade materna no Brasil, o que, como sempre, afeta
mais as mulheres pobres. Consideramos que a interrupção de maneira legal e
segura de uma gravidez não desejada tem de ser direito da mulher, que deve
ter autonomia sobre seu próprio corpo. Direito este exercido pela própria ”mãe
da Igreja”, quando, conscientemente, teve a liberdade de dizer “sim”.
Gostaríamos também de ressaltar que repudiamos a condenação da
diversidade sexual (LGBTT - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais) pela igreja católica, o que vem perpetuando a discriminação e a
violência contra esse segmento da população. Diante disso, a igreja católica, na
1 Dados do Censo 2000, realizado pelo IBGE.
pessoa do Papa, tem sido oficialmente incoerente com a máxima do Cristo: “Eu
vim para que todos tenham vida, e vida em abundância” (Jo 10, 10).
A junção desses fatores culturais/sociais – sexistas, homofóbicos e
racistas – que a igreja católica fomenta, promove a manutenção de um sistema
excludente e desigual, que é justamente a base do capitalismo. Vivemos em
uma sociedade que necessita da desigualdade para a sua manutenção, já que
nem todos podem ter a mesma quantidade de riquezas e oportunidades.
Entendemos que uma igreja que prega o amor ao próximo e a fraternidade
como valores essenciais, não pode estar na contramão da busca da igualdade,
logo, não deveria promover idéias que geram preconceitos. Exigimos que a
igreja católica, em um processo de conversão institucional, volte-se a sua
missão já proclamada na América Latina há alguns anos: “Opção preferencial
pelos pobres”!
A capacidade de construir as regras morais, que regulam a convivência
social, é uma característica dos seres humanos, mas elas podem – e devem! –
ser elaboradas a partir de convivência pacífica e consensual, não sendo
admissível que sejam impostas.
O Estado é responsável pelas políticas públicas necessárias para a
vivência saudável e autônoma da sexualidade, mas se ele se pautar pelas
posições da igreja católica, ou de qualquer outra igreja ou religião, estará
negando um princípio democrático fundamental. Dessa forma, inclusive,
impede a pluralidade religiosa, pois cria privilégios para algumas religiões em
detrimento de outras. O Estado tem o dever de garantir a liberdade de
expressão das diversas crenças religiosas que existem no país, caso contrário,
estará fomentando o preconceito quanto a credos religiosos não majoritários,
como ocorre com as religiões de matrizes africanas (candomblé e umbanda).
Assim, reiteramos que é necessário reafirmar o Estado Laico como uma das
condições para um Estado democrático e que, para as igrejas e religiões, cabe
a necessidade de se compreender o caráter missionário e evangélico do
macro-ecumenismo, para que em um mundo tão individualista e em guerras, de
fato, todos sejamos um.
Com este manifesto, queremos que o Papa, os demais membros da
hierarquia católica e toda a sociedade nos ouçam, nos vejam e, finalmente,
nos respeitem, promovendo as mudanças necessárias e urgentes em suas
posições que nos permitam viver em um mundo mais justo, fraterno e
igualitário.
E se você, que é jovem como nós, também sente o quanto essas
incoerências afetam a sua vida, saiba que não está sozinho/a. Questionamos
as posições da igreja católica, mas não queremos negar a crença de ninguém,
mas, sim, reafirmar nosso direito universal à autonomia e a uma vida plena,
prazerosa e sem violência ou discriminação. Somos jovens decididos a decidir,
a partir de nossa experiência encarnada, contra as normas violentas que nos
são impostas, mas fielmente ligados/as a uma espiritualidade, ou práticas
sociais, que nos libertam e nos têm tornados mais felizes.



ASSINAM O MANIFESTO:


1. JOVENS FEMINISTAS DE SÃO PAULO
2. CORSA - CIDADANIA, ORGULHO, RESPEITO, SOLIDARIEDADE E AMOR
3. GRUPO IDENTIDADE - GRUPO DE AÇÃO PELA CAIDADANIA DE
LÉSBICAS, GAYS, TRAVESTIS, TRANSEXUAIS E BISSEXUAIS– CAMPINAS
4. RAIO X COMUNICAÇÃO
5. CASVI - CENTRO DE APOIO E SOLIDARIEDADE A VIDA
6. GRUPO E-JOVEM DE ADOLESCENTES GAYS, LÉSBICAS E ALIADOS
7. MARCELA MOREIRA – (VEREADORA EM CAMPINAS/SP –PSOL)
8. VALÉRIA ALVES DA SILVA (PROJETO CAMARÁ – CENTRO DE PESQUISA
E APOIO À INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA)
9. VANESSA ALVES DA SILVA (PROJETO CAMARÁ )
10. VANESSA SANTOS DA SILVA (PROJETO CAMARÁ)
11. FÁTIMA CAROLINA BAETA (PROJETO CAMARÁ)
12. ADRIANA DANTAS DE SOUSA GAMA (PROJETO CAMARÁ)
13. ELIZADETE BORGES DE NOVAES (PROJETO CAMARÁ)
14. LUMENA CELI (PROJETO CAMARÁ)
15. TEIXEIRA (PROJETO CAMARÁ)
16. DANIELA YONE (PROJETO CAMARÁ)
17. UECHI (PROJETO CAMARÁ)
18. JOSÉ CARLOS MORAES FERREIRA NÁZARA (PROJETO CAMARÁ)
19. JOÃO CARLOS GUILHERMINO DA FRANCA (PROJETO CAMARÁ)
20. BRUNO RODRIGUES DA SILVA
21. ALDER AUGUSTO DA SILVA (COORDENADOR VIRAJOVEM /REVISTA
VIRAÇÃO)
22. GLBT SOCIALISTAS
23. GRUPO GLBTT DA ZONA LESTE
24. INOVA - FAMÍLIAS GLBTT
25. ASSOCIAÇÃO DA PARADA DO ORGULHO GLBT DE SP
26. INSTITUTO EDSON NÉRIS
27. NEPS - NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS SEXUALIDADES
28. MINAS DE COR
29. CFL - COLETIVO FEMINISTAS LÉSBICAS
30. FLOR DO ASFALTO
31. INSTITUTO APHRODITHE
32. INSTITUO SER HUMANO
33. GRUPO ATITUDE - SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
34. CRESS/SP - CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL
35. ASSOCIAÇÃO VIVA A DIVERSIDADE
36. GADA - GRUPO DE AMPARO AO DOENTE DE AIDS
37. CECON JOANA D'ARC
38. ABCDS - AÇÃO BROTAR PELA CIDADANIA E DIVERSIDADE SEXUAL
39. GESC
40. MOLECA - MOVIMENTO LÉSBICO DE CAMPINAS
41. FALT - FAMÍLIAS ALTERNATIVAS
42. APTA - ASSOCIAÇÃO PARA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA AIDS
43. PRISMA - DCE LIVRE DA USP
44. GRUPO GATTA
45. GRUPO ELES
46. ROSA VERMELHA
47. ONG SAÚDE & CIDADANIA
48. ROSANE RIBAS – ATIVISTA SANTO ANDRÉ

49. HIP HOP MULHER



Contato:
Católicas pelo Direito de Decidir
www.catolicasonline.org.br
cddbr@uol.com.br
(11) 3541-3476